As pessoas mais felizes sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos e reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas!

C. Mestre Xandinho

Alexandre Bueno de Araújo, nascido em 03 de janeiro de 1977, conhecido no mundo da capoeira como C. Mestre Xandinho, começou a treinar capoeira muito pequeno por intermédio de seu pai, que já havia praticado algumas lutas. Ele tinha um berimbau que tocava de vez em quando e lhe falava sobre a capoeira.
Muito curioso, Xandinho disse ao seu pai que queria praticar algum tipo de luta, e foi atrás de alguma academia para olhar, mas não tinha nenhuma perto de sua casa. Após uma apresentação de capoeira que um amigo fez na escola em que estudava, ele ficou encantado e comentou que queria ir aonde o amigo treinava capoeira e que queria começar naquele momento.
Ao falar para seu pai que queria praticar capoeira, o mesmo lhe disse que não seria possível porque ainda não tinha recebido seu salário e propôs de começarem a treinar juntos no quintal de sua casa. Aos 11 anos de idade se inscreveu em uma escola de capoeira próximo de onde morava, e começou a treinar com o Professor Oswaldo, formado do já falecido Mestre King Kong de São Paulo. Foi assim que tudo começou e a capoeira acabou se tornando a sua grande paixão.
Com o passar do tempo surgiram várias oportunidades de viagens, e em uma delas se tornou professor na Espanha, na cidade de Galícia, adquirindo grande prestigio dentro da capoeira, sendo convidado por Mestres e Professores, para reuniões importantes dentro e fora do Brasil.
A partir de sérias complicações após um acidente, C. Mestre Xandinho superou todos os problemas com a garra e determinação de quem nasce novamente. O acidente abriu mais sua mente para repensar em vários aspectos, ainda mais pela vida que é tão importante para ele e, mesmo longe de seus familiares, conseguiu vencer essa fase tendo ao seu lado uma pessoa muito importante, sua esposa Danone, que lhe deu toda assistência que precisava. O então Professor Xandinho resolveu montar seu próprio grupo, onde já realizou diversos eventos. Atualmente desenvolve um trabalho na Espanha, além de manter o grupo no Brasil, onde vem uma vez por ano para supervisionar o trabalho dos alunos.


Quando um capoeirista se destaca, todos querem saber sobre seu treinamento. Como é o seu? E a sua rotina diária?
Eu procurou cuidar do corpo porque a estética conta muito. Corro, ando de bicicleta, dou aulas todos os dias e chego uma hora antes para treinar. Não bebo, não fumo e procuro me alimentar bem.

Algum momento marcante, nas rodas de capoeira?
Quando eu fui a 1º vez com o Mestre Panão para os Estados Unidos em 1997, teve uma cena que me marcou muito, haviam muitas pessoas na aula do mestre Suassuna, ele começou a tocar o berimbau e cantar eu me agachei e me emocionei muito com os olhos cheios de lágrimas o ouvindo cantar .

Na sua opinião, como está a capoeira fora do Brasil?
Pelo que tenho viajado pela Europa, está quase como no Brasil, cheio de capoeiristas, com muitos eventos de qualidade também.

Você já levou a capoeira para a mídia?
Quando morava no Brasil em muitos programas, como o da Eliana, O positivo, Mulheres, Programa da Adriana Galisteu. Na Espanha também, na TV, rádio e nos jornais.

Conte algum fato interessante que ocorreu com você na capoeira.
Quando eu fui trocar de graduação estava jogando com o Mestre Jogo de Dentro, ele fez uma chamada muito alta e eu não conseguia alcançar a sua mão, aí eu tive que dar um pulo. Foi uma brincadeira que ele fez comigo.

Você é a favor da unificação na capoeira? A seu ver, qual a conseqüência imediata da falta de união?
Sim sou, acho que seria mais fácil a identificação dos capoeiristas. A falta de união é um grande problema porque a capoeira é só uma e as diferenças são varias, começando por grupos, estilos, uniforme, forma de aprendizado e muito complicado, isso leva a um pensamento que um é melhor que outro.

Você é a favor das rodas abertas de rua? Participa?
Sou a favor e participo. Só acho que tem que ser bem organizado e não pancadaria, para que as pessoas que estão de fora parem para ver não tenham essa imagem tão negativa da capoeira.

O que a capoeira representa em sua vida?
Começo falando que tudo, porque ela me ensinou a ser o que sou hoje, a respeitar, a educar, a aceitar, a compreender, a chorar, a sorrir, a escutar, a falar, a calar, a me emocionar, a dar valor, perguntar, a pesquisar, a cair e levantar.

Uma alegria e uma tristeza na capoeira.
Um alegria quando peguei minha primeira graduação. Uma tristeza quando eu sofri um acidente de carro que fiquei em coma e não sabia se iria voltar a praticar capoeira.

Você sente saudade da capoeira do Brasil?
No começo sim. Agora eu viajo tanto, vou a vários bons eventos e estou fazendo muitas novas amizades.

No seu ponto de vista o que falta para a Capoeira no Brasil retomar aquela época em que todos conseguiam viver de capoeira, não tendo que buscar esse trabalho fora do Brasil.
Essa pergunta é muito complicada, porque a capoeira tem seu lado discriminado no Brasil. Lá fora a capoeira tem um valor inimaginavel, as pessoas te dão valor, admiram seu trabalho, no Brasil infelizmente não, porque o governo não da nenhuma forma de apoio para essa cultura. Mestre Bimba tentou fazer com que ela fosse vista da melhor forma, mas com o seu crescimento desordenado e com a irresponsabilidade de pessoas que usam a capoeira em vão, sem dar nemhum tipo de valor e responsabilidade a essa cultura, muitas pessoas não gostam e discriminam a capoeira no Brasil.
É muito triste, mas é a realidade, ter que sair do Brasil para poder mostrar essa cultura maravilhosa para outros povos e trabalhar para que ela não venha a ser tão mal vista como é no Brasil.


A PALAVRA DO MESTRE
Não usem o nome da capoeira em vão, levem-na a sério. Que seja do coração, que a carreguem no sangue e não a usem só por dinheiro. Divulguem essa cultura tão maravilhosa com responsabilidade e o respeito que ela merece!